Perdas inevitáveis - excelente oportunidade de crescimento pessoal
Uma experiência que todos nós vivemos ao longo da vida é a perda. Eu percebia isto desde criança, mas minha prática profissional só veio reforçar esta percepção. Eu mesma e cada um dos meus clientes, por dentro ou por fora, de alguma forma estamos lutando contra alguma perda.
Quando falamos em perda logo pensamos na morte de pessoas queridas, animais de estimação, etc. Porém a perda é muuuito mais abrangente. Perdemos, sim, pela morte, mas também por abandonar e ser abandonado, por mudanças de endereço, de escola, de emprego, por ter que deixar pessoas, lugares e coisas para trás e seguir adiante. Perdemos, consciente ou inconscientemente, amores, paixões, sonhos, expectativas impossíveis, ilusões de liberdade, poder, segurança, status, dependências — e a perda do nosso EU jovem, o EU que se julgava imune às rugas, aos cabelos brancos, invulnerável e imortal.
Ao escrever este texto, consciente da minha finitude e vulnerabilidade, minha memória traz um filme que exibe minhas perdas da vida inteira…. perdas inevitáveis…Eu chorei por elas, mas tenho convicção de que elas me fizeram forte, paciente, experiente, proativa, perseverante, madura e esperançosa.
As perdas que enfrentamos quando ficamos face a face com fatos fora do nosso controle, me fazem constatar que somos incapazes de oferecer a nós mesmos ou aos outros qualquer forma de proteção — contra o perigo, contra a dor (física, emocional ou moral), a velhice, a morte, rompimentos de relacionamentos, contra perdas inevitáveis. As perdas não escolhem idade, nível intelectual, padrão social, sexo, raça, etc., elas muitas vezes chegam sem aviso e sem pedir licença.
Tais perdas fazem parte da vida — são universais, implacáveis. E temos de concordar: em qualquer fase da vida, pra qualquer pessoa, perder é difícil e dói muito!
Contudo, a boa notícia é que essas perdas são necessárias porque para crescer, fortalecer e amadurecer, temos de perder e desapegar. Há uma forte conexão entre perdas e ganhos. Ao longo da estrada da vida crescemos emocionalmente desapegando, deixando para trás alguns vínculos profundos com outras pessoas, abrindo mão do nosso corpo e status de crianças, de adolescentes, desistindo de sonhos e projetos.
Este texto vem afirmar o ponto de vista de que só através de nossas perdas nos tornamos seres humanos plenamente desenvolvidos. A forma como enfrentamos tais perdas determina quem somos, a vida que teremos, podendo nos levar para o bem ou para o mal.
Eu não sou psicanalista, mas já estudei muito Freud e a Psicanálise; creio que a perspectiva psicanalítica é a que oferece a melhor compreensão sobre quem somos e como agimos. Adoto a convicção de Freud de que a conscientização ajuda, que reconhecer o que estamos fazendo ajuda, e que o autoconhecimento pode ampliar o campo das nossas escolhas e possibilidades.
Meu convite a você é que no dia 02 de novembro você não só relembre e homenageie seus entes queridos falecidos, mas também faça um balanço de suas perdas:
Perdas relativas ao corpo e a transformação gradual pela qual passou, inclusive da segunda metade da vida;
Perdas relativas às suas limitações de poder e potencial;
Perdas ligadas à renúncia dos sonhos, projetos, oportunidades, emprego, etc;
Perdas referentes a relacionamentos idealizados, em favor de conexões imperfeitas, porém realistas;
Fazer este balanço não vai produzir um “remédio milagroso” que cure a dor causada pelas perdas, mas vai te ajudar a reconhecer que perdas estão definitivamente ligadas ao seu crescimento, a quem você é hoje e à vida que você tem agora. E reconhecer como foram suas respostas às perdas pode ser o começo do autoconhecimento, que por sua vez é um poderoso recurso para efetivar mudanças promissoras.
Na realidade esse lance de perda e ganho é um grande paradoxo: a fim de crescer temos que renunciar a muita coisa; para amar profundamente alguém, um lugar ou alguma coisa, temos que nos despojar de outras tantas….
Enfim… a conclusão é que não se pode ser um indivíduo íntegro, pensante, responsável, com relações saudáveis, sem ter passado por alguma renúncia, algum desapego… são as perdas inevitáveis!
Lembre-se: a dor da perda é passageira, mas o aprendizado adquirido com a experiência da perda é perene e abundante em oportunidades!
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