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"ESPELHO, ESPELHO MEU!"


Resgate da Autoestima

Comportamento

“ESPELHO, ESPELHO MEU” (*)

Problemas com a autoestima geram transtornos em jovens e adultos

Por Jaqueline Dias

Aceitar a imagem refletida no espelho, ato que pode ser considerado simples, se tornou um problema para grande parte da população. E os “questionamentos” sobre a própria beleza já atingem os adolescentes, de acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Através de um levantamento feito com 1007 adolescentes, de ambos os sexos, foi constatado que 80% deles apresentavam algum grau de insatisfação. A estudante Carolina Santos, de 16 anos, se enquadra no cenário encontrado na pesquisa. “Gostaria de emagrecer de três a cinco quilos, apesar de meus familiares e amigos discordarem dessa necessidade”.

Para a psicoterapeuta e colaboradora do projeto Resgate da Autoestima (www.resgatedaautoestima.com), Cristina Vasconcelos, o padrão de beleza, imposto pela sociedade e mídia, gera transtornos para a população, pois as pessoas se veem na obrigação de segui-los. “Como exemplo, é possível citar os distúrbios alimentares como a bulimia e anorexia, a obsessão pela magreza, por dietas, malhação, cirurgia plástica, moda e produtos de beleza, todos expostos diariamente nos veículos de comunicação”.

E a preocupação com a questão física não atinge somente as mulheres. “Os homens também estão nesta busca frenética pelo ‘corpo perfeito’. Os programas destinam cada vez mais espaço para apresentar novos produtos e serviços, buscando todos os tipos de consumidores”. Segundo a especialista, a pressão exercida pela mídia, alavancada pela globalização, deixa o indivíduo confuso e em conflito.

“Permaneço fiel aos meus valores e princípios ou entro nesta ‘onda’ ditada pelo capitalismo? Essa tensão, muitas vezes, deixa a pessoa sem seus referenciais estruturantes, o que resulta em uma existência mais do eu-aparência do que do eu-essência. Vivemos um tempo de culto aos aspectos exteriores”.

Assim, no entendimento de Cristina, a criança, desde cedo, é ensinada a olhar para fora, para a expectativa dos outros e acaba por não aprender a ouvir os desejos interiores, tornando-se volúvel e manipulável com facilidade.

Resgate da Autoestima

Distorção da realidade

Cristina explica que a identificação com o próprio corpo constitui a fundação sobre a qual se constrói uma vida pessoal. “O senso de identidade provém de uma sensação de contato com o físico e hoje vemos a maioria das pessoas em confusão com sua identidade”. Ela disse que a imagem é um reflexo da realidade, uma construção mental que dá ao sujeito a possibilidade de orientar seus movimentos e ações.

“O problema acontece quando não se tem consciência corporal e a imagem se torna um substituto do corpo. Assim, o mesmo é abandonado quando se torna origem de dor e humilhação, em vez de ser fonte de prazer e orgulho. Nestas circunstâncias, o indivíduo, inconscientemente, se recusa a se aceitar ou identificar, procura ignorá-lo ou tenta transformá-lo num objeto mais desejável por meio de dietas, malhação, cirurgia plástica ou consumo de produtos e serviços anunciados”.

E para recuperar a boa visão do corpo, a psicóloga relatou que é necessário aceitar o irracional dentro de si, buscar o autoconhecimento, a interiorização e o contato com a criança que existe dentro de cada um. “O aspecto deslumbrante do irracional é que ele possui o poder de nos mover, é fonte de criatividade, de prazer. Nesta era do imediatismo e dos produtos milagrosos, geralmente não se leva em conta que o corpo tem seus próprios recursos e capacidade natural de se curar. Mas o ‘eu’ está ‘viciado’ em marketing e não consegue avaliar e desfrutar das complexas e sofisticadas estruturas produzidas pela nossa existência”.

Cristina disse que é, no mínimo, curioso que o ser humano fique fascinado com as vitrines dos shoppings e não consiga ficar deslumbrado com suas vitrines interiores, que expõem seu próprio potencial, habilidades, competências, recursos e qualidades.

“Temos a possibilidade de só ficar na superfície ou mergulhar em camadas mais profundas do nosso ser. Conhecer os ‘espaços’ mais profundos leva a projetos de mudança, mas o conhecimento superficial leva a desejos fugazes e sem sustentabilidade. Penetrar em si mesmo, se observar e mapear de maneira realista, transparente, sem disfarces e máscaras trará subsídios para gerar outras possibilidades, reeditar sua história e dar outro significado aos sofrimentos”.

A psicoterapeuta revelou que trata, com frequência, pessoas com problemas em sua imagem. “A preocupação obsessiva é mais comum do que se imagina, não só com a imagem corporal, mas com a imagem global. Nos adolescentes, de ambos os sexos, esta inquietação está estreitamente relacionada com as transformações próprias da puberdade e com a transição que fazem para a vida adulta. Ocorre também em adultos, com mais frequência em mulheres, embora homens também sejam acometidos”.

Para solucionar tais questões, em alguns casos, a intervenção de um especialista é importante, pois o mesmo ajudará o indivíduo a desenvolver a autoconsciência, descobrir seus recursos próprios e utilizá-los. “Nos casos mais graves, que são acompanhados de depressão, ansiedade, fobias, isolamento social, entre outros, o cuidado de um ou mais profissionais é indispensável e, muitas vezes, é necessário o uso de medicamentos”.

Resgate da Autoestima

Com base no trabalho que desenvolve, Cristina disse que este

desajustamento está sempre associado à baixa autoestima, que pode ser decorrente de uma infância deficiente de carinho e de aprovação, levando a uma autocrítica severa e destrutiva, reflexo de crítica excessiva dos pais ou educadores, de sentimentos de abandono, ou mesmo por causas orgânicas, agravados pela cultura ocidental materialista, capitalista, consumista, assentada sobre o corpo como objeto e pelos padrões de beleza ditados pela mídia. Acredito que a autoestima é a chave que abre a porta da superação das dificuldades e da convivência harmoniosa. Se acreditarmos em nós mesmos e na nossa capacidade, passamos a nos sentir mais confiantes e seguros, o que nos possibilita obter sucesso na vida. O autoconhecimento é um precioso recurso de transformação pessoal e social ainda pouco explorado pela maioria das pessoas”, conclui.

(*) Matéria publicada no Diário Regional em 02/09/12.

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