Mulher, como você quer envelhecer?
- Cristina Vasconcelos

- 27 de nov.
- 3 min de leitura
O ENEM 2025 trouxe um tema de redação muito relevante - Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira. Isso colocou no centro do debate algo que normalmente preferimos empurrar para fora da pauta das conversas: o tempo que passa, o corpo que muda, e a pergunta é - qual é o lugar social que reservamos (ou negamos) às pessoas que envelhecem.

Deixo meus aplausos a esse debate, que finalmente chegou às salas de aula — e às conversas de todos nós.
Os números confirmam aquilo que os 50+, 60+ já vivem no dia a dia: o envelhecimento deixou de ser futuro. É o agora.
Falar sobre envelhecimento é falar sobre economia, estrutura, saúde, políticas públicas, afeto e muito mais. É garantir que a vida siga possível — e digna — em todas as fases do envelhecer.
Eu acredito que amadurecer é também ampliar a consciência. Mas é preciso que toda a sociedade amadureça junto.
Ter vida saudável não é apenas estar com a saúde em dia, mas viver com qualidade de vida em todos os aspectos. Nós somos as responsáveis pela nossa saúde e fazemos escolhas diariamente: o que vou comer, se vou praticar atividade física ou se vou ficar sentada no sofá, se vou resolver meus problemas com tranquilidade ou se vou viver estressada. E essas decisões de hoje vão refletir no futuro, simples assim.
Adotar um estilo de vida saudável e ativo é a melhor solução para esses desafios. No entanto, muitas pessoas deixam para “depois” as mudanças no estilo de vida.
O tempo é um recurso esgotável, irrecuperável e eu te pergunto: de que forma você gostaria de chegar à sua velhice?
Há uma diferença entre o que é comum aos 60 anos e o que é normal aos 60 anos. Exemplo: muitas vezes, é bem comum nesta idade controlar a pressão arterial com medicação; fazer caminhadas regulares também ajuda a controlar a pressão arterial e seria o normal.
Eu já sou 60+ e reconheço que ainda tenho muito chão pela frente, mas para muitas mulheres, 60 anos é um marco amargo. Será possível encarar o amadurecimento com leveza quando estamos inseridas numa sociedade que trata o envelhecimento com tanto preconceito?
Esse preconceito e discriminação em relação às pessoas por conta da idade chama-se “ageísmo” ou “etarismo”. Às vezes nós mesmas praticamos isso sem perceber, inconscientemente. Um exemplo de ageísmo são os comentários depreciativos nas redes sociais sobre mulheres que assumem seu processo natural de envelhecimento: cabelos brancos, rugas, estrias, etc. A Xuxa é uma mulher que tem ousado envelhecer e mostrar a cara sem cirurgias, sem maquiagem ou procedimentos estéticos em plena luz do dia. Com isso ela tem encontrado muitas críticas de haters nas redes sociais.
Eu convivo com muitas mulheres 40+, 50+ e 60+, tanto profissionalmente como socialmente, e escuto muitas lamúrias sobre o envelhecimento. Muitas mulheres não encaram o envelhecimento de forma leve.
As discussões necessárias sobre o ageísmo têm colocado de forma clara a violência social de que somos vítimas à medida que envelhecemos; precisamos analisar os estereótipos sociais, se pretendemos substituí-los por outros padrões mais humanos e realistas.
Precisamos falar sobre como muitas mulheres se violentam para esconder a idade e como isso tem produzido mulheres frustradas, inseguras e infelizes.
Ainda não há espaço para isso nas mídias, por isso temos que falar nesse assunto e abrir esse espaço. Precisamos combater esse preconceito contra a idade.
Precisamos também falar que nossa geração está inaugurando uma nova forma de ser mulher madura ativa, saudável, bonita, contribuinte em tudo, com uma forma de vida que antes era considerada exclusiva das jovens, que é só a jovem que malha, que namora, que tem vida sexual ativa, que tem vida social, etc.
Estamos mostrando que a vida madura pode ser mais leve e feliz para nós, que SIM, nós podemos fazer tudo que as jovens fazem porém de forma diferente e com mais sabedoria.
Você está pronta para essa conversa?
Cristina Vasconcelos
Psicoterapeuta



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