Essência e aparência na sociedade do espetáculo
As situações geradoras de sofrimento, como violência, desemprego e exclusão social, agravadas pela crescente globalização, estão gerando tensão entre o global e o local, deixando as pessoas confusas, sem saber se permanecem fiéis aos seus valores e crenças ou se entram nessa outra cultura, ditada pela globalização.
Esse impacto da globalização sobre a identidade da mulher madura muitas vezes rouba suas referências, resultando numa existência mais de EU-APARÊNCIA que de EU-ESSÊNCIA.
A aparência é o conjunto de aspectos físicos que compõe a apresentação da mulher: etnia, cabelo, roupas, corpo, voz, etc. É o que os sentidos (visão, olfato, audição) podem captar. É como nos apresentamos ao convívio social, o que ‘pretendemos’ ser. É exterior.
A essência constitui a natureza ideal da mulher, seus valores, a paz e o equilíbrio interno. Não é visível nem audível; é interna, profunda, é base, é aquilo que é. A ESSÊNCIA do nosso ser corresponde àquilo que somos no domínio privado, pessoal, sem disfarce e sem distorções.
Aparência é da ordem da vaidade….
Essência é da ordem da realidade….
Aparência é simulação….
Essência é verdadeira….
Aparência, pode ser facilmente identificada….
Essência exige um olhar mais aprofundado, por isso, tem mais valor….
Aparência pode nos levar a erro….
Essência, jamais!
Quem de nós nunca se decepcionou com pessoas próximas sendo enganadas pela aparência e não pela essência???
Vivemos numa “sociedade do espetáculo” que valoriza e julga muito pela aparência, preza pela beleza e juventude, em detrimento da essência da mulher. O que importa é a embalagem, a imagem (aparência) e não o conteúdo (essência). Sendo assim, conhecer a essência pode gerar descompasso com a aparência.
Não é fácil descobrir que se vive de aparência, porém, se você decide se desafiar e se autoconhecer, abre-se sempre a possibilidade de viver a essência.
O que identifica uma mulher madura não é o que veste, o que possui, seus títulos, sua profissão. A mulher é definida pelo que está dentro dela, a personalidade, o caráter e seu propósito no mundo.
Os padrões sociais querem nos forçar a usar uma máscara cada vez que saímos de casa para nos sentir aceitas. Falamos o que as pessoas querem ouvir, agimos conforme regras e valores que nem sempre são os nossos….
Algumas tribos indígenas, dentre elas os Ianomâmi, Pataxó, Ticuna, conservam em sua cultura o hábito de dar 2 nomes para cada índio que nasce, sendo:
Um para uso comum, utilizado no convívio social
E o outro é um nome pessoal, secreto.
Sutilmente esse hábito nos lembra o grande dilema humano: o desafio de conviver com estas duas identidades – o EU-APARÊNCIA e o EU-ESSÊNCIA. Desde criança, somos convidadas a atender e satisfazer os desejos do grupo social onde convivemos.
Quem na infância já não ouviu frases do tipo?
Seja boazinha e obediente…
Não responda os mais velhos…
Criança não tem querer…
Engula o choro…
E neste esforço de corresponder ao desejo do outro nos afastamos dos nossos próprios desejos, sacrificamos nosso EU-ESSÊNCIA e vamos nos escondendo de nós mesmas, permitindo que o outro defina “o que é melhor pra nós”. Por um lado somos consideradas mulheres “boazinhas”, mas, por outro lado, nos anulamos, sufocando nossos desejos, opiniões, sonhos – o EU-ESSÊNCIA!
O psicólogo Karl Jung diz que temos uma máscara com a qual nos comunicamos com o mundo externo, com a sociedade, de acordo com papéis sociais exigidos. O objetivo principal desta máscara é sermos aceitas pela sociedade, porque dependemos dela em nossos relacionamentos, no trabalho e na convivência. Porém, o grande risco, segundo Jung, é nos confundirmos com a máscara e passar a achar que somos ela própria, afastando-nos do nosso EU-ESSÊNCIA….
Quando nos confundimos com a máscara, nos tornamos mulheres rígidas, difíceis de conviver, gerando conflitos e sofrimento pra nós e pros outros.
Somos muito mais do que aparência, somos uma história, uma personalidade única, cada qual do seu jeito. Muitas pessoas conhecem apenas a sua estampa, o que é natural, pois se passamos muito tempo olhando para a “embalagem”, acabamos nos esquecendo de como é o “conteúdo”; aí entra a necessidade de se autoconhecer.
O dilema de conviver com o EU-APARÊNCIA e o EU-ESSÊNCIA tem levado muitas mulheres a buscar o autoconhecimento pois sentem necessidade de entrar em contato com sua “essência”, pois estão insatisfeitas com o que está estampado por fora.
Para esta jornada interior as pessoas buscam viagens, retiros, meditação, drogas, religiões, filosofias, etc., mas lembre-se que os processos de psicoterapia e coaching são perfeitos pra essa finalidade!
A busca pela essência através do autoconhecimento seria a forma de mergulhar em si e se apropriar de sua história, conhecer melhor suas heranças ancestrais, ressignificar sua vida e encontrar paz consigo mesma, não dependendo mais das aparências, pois essas apenas mascaram o sofrimento que muitos sentem.
Você terá uma vida emocional mais equilibrada quando o EU-ESSÊNCIA e o EU-APARÊNCIA forem o mais próximo um do outro, isto é, quando sua aparência refletir realmente sua essência.
Cristina Vasconcelos
Psicoterapeuta e Coach
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